terça-feira, 28 de abril de 2009

“É... mas tenho ainda muita coisa pra arrumar...”


Sempre admirei Lilia Cabral. Acho que a primeira vez que prestei atenção nela como atriz foi em Tieta. Ela interpretava uma beata cheia de amor pra dar (digamos assim), a Amorzinho. Quanto tempo tem isso? Melhor nem calcular (rs)! Após esse, vieram outros papéis, mas nenhum verdadeiramente marcante. Injusto, claro... E isso só foi reparado muito depois, com a Marta de Páginas da Vida, a vilã do folhetim. Marta era psicopata, mas daquelas que não matavam, mas era capaz de destruir vidas com sua amargura e acidez em cada comentário maldoso ou envenenar as pessoas que a rodeavam com sua língua ferina. Uma vilã, real, na verdade. Houve até quem concordasse com algumas de suas atitudes deploráveis, tamanha sua verossimilhança. E olha que ela era aquela avó que foi capaz de largar a neta na maternidade e levar apenas o irmão gêmeo da menina consigo. “Vou ter que levar dois bebês pra casa, sendo que um com defeito?!(...) Eu não quero! Eu passo! Não quero um estorvo desses na minha vida!”, dizia ela (entre outras barbaridades)sobre a neta, portadora de Síndrome de Down.
Minha intenção não era fazer uma introdução sobre a Lília, mas falar de seu trabalho é tão agradável quanto a pessoa dela. Flui com naturalidade e ela merece!
Semana passada tive a felicidade de ver outro grande filme nacional: Divã. Nele conhecemos a história de Mercedes, uma professora de matemática que resolve procurar um analista, por razões que ela diz desconhecer, mas que acaba percebendo após cada consulta. Mercedes é casada com Gustavo (José Mayer) e tem dois filhos com ele. Mas algo aí está errado: ela não está mais tão satisfeita com a vida a dois. Eles estão juntos, se amam (e isso é nítido), mas não se desejam mais – como ela mesma define – mas isso é possível? Como podem duas pessoas que se amam não sentirem mais atração uma pela outra? Esfriarem na cama e viverem nela dias de domingo? (Daqui em diante farei vários spoilers, então pule os próximos 3 parágrafos, se assim desejar).
Apesar dela ser a primeira a demonstrar certo descontentamento, ele é quem dá o primeiro passo rumo à separação: uma amante. Diante da postura moderna da esposa, ele também dá o segundo e definitivo passo: muda-se para outro apartamento.
Contando dessa maneira pode parecer que Mercedes é uma mulher submissa, dependente do casamento pra ser feliz, mas não é o caso. Aliás, uma das melhores sensações pra quem assiste um filme como esse é ver uma personagem como ela: firme em suas convicções, decidida e que não deixa a peteca cair (nota: em momento algum). Ela perdera a mãe muito jovem e mal se lembra dela. Também não chorou a morte dela e, depois disso, não chorou por mais ninguém. Claro, com o decorrer do filme, ela encontra inúmeros motivos pra sofrer e chorar, e, finalmente, redescobre o que é ter as lágrimas fluindo involutariamente no rosto, mas não fica amargando as derrotas e amaldiçoando a vida. Volto a dizer: ponto pro filme!
Assim que descobre que Gustavo está sendo infiel, ela conhece Theo (Reynaldo “gritinhos na plateia” Gianechinni) e se interessa por ele. A partir do interesse mútuo, ela mergulha de cabeça no relacionamento extraconjugal e descobre que essa nunca é a melhor escolha. Depois conhece Murilo (Cauã Reymond) que a leva pra um lugar romântico: a balada! (rsrs).
A cada aventura em que se mete durante o período em que está em auto-análise, Lilia Cabral brinca de interpretar e nos oferece uma Mercedes divertidíssima, que ri e nos faz rir de seus próprios problemas, mesmo quando não é essa sua intenção. Vale destacar a química em cena com... tcharam: Amanda Richter, a melhor amiga. As duas parecem de verdade e acreditamos na amizade desinteressada e confidente das duas, o que contribui para nos arrancar algumas lágrimas nos momentos certos. SPOILERZÃO: Após a morte da amiga, Mercedes não fica se lamuriano e essa pra mim, foi a maior lição, o monólogo dela no consultório é como uma aula pra nós que reclamamos da vida. Ela sentirá falta da amizade e sabe que será difícil falar da amiga usando o “passado” e não o “presente”, mas em momento algum queixa-se que a vida foi injusta com ela: a vida é assim, é movimento, então temos que caminhar junto com ela. Lindo, simples e perfeito!
Outra figuraça que ajuda na comicidade da história, além de Amanda, como Monica, é o cabelereiro (Repica) Renê, vivido por Paulo Gustavo. Após todas as aventuras e desventuras que a vida fornece, Mercedes conclui: Se eu tive problemas na vida, não foi por falta de felicidade!. Assim como essa, o filme é repleto de frases deliciosas e cheias de significado! E de brinde: a atuação soberba de Lilia, mostrando a grande atriz, versátil e talentosa que é!
Você sai mais leve da sala, como se tivesse saído... de um divã, com o perdão do trocadilho.

Recomendadíssimo!

>> Pra fechar com chave de ouro, a música dos créditos:

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